sábado, 22 de setembro de 2012

Contos de fadas

Era uma vez um pequeno rei que morava num castelo de areia e névoa. O castelo ficava num reino de gigantes de pedra com garras e sorrisos de borracha.
Era uma vez um pequeno rei, num castelo de luz e sombras, reinando numa terra de mentiras e pedregulhos. O pequeno rei, em seu grande castelo, dando ordens a ossos velhos, criados da escuridão da fortaleza, vendo nascer em si uma grande firmeza. De dia em dia o reizinho brincava com os gigantes, olhava-os com admiração e respeito, pois naquela terra todos os gigantes lhe tinham apreço; pena que em terra de gigante força de alma não é força de peso, e por ser pequeno, o reizinho era tido apenas como um menininho, pássaro sem ninho, que não poderia jamais sozinho voar ao alto do céu.
Pobre reizinho, prisioneiro inocente de suas próprias douradas correntes numa gaiola prateada incrustada de diamantes. 
Pobre reizinho, reinando sozinho, entre pedras e passarinhos. 
Pobres gigantes, quão deselegantes eram em achar que era seu tamanho maior que o mar.
Apesar de sozinho, descobriu o reizinho, as maravilhas de seu reino. Dos pássaros que fugiam pelo ar, das cores que invadiam seu corpo, que expandiam seu olhar até onde pudesse alcançar. 
Que maravilha de reino!, pensava o reizinho; que reizinho mesquinho, pensavam os gigantes vizinhos, só vê o que quer.
Era uma vez um rei crescido, soprando sentido a poeira da qual era feita seu castelo. Seus gigantes criaram garras de navalha, bocas cheias de lava, e olhos da mais refinada escuridão. 
Ó, pobre reizinho, cresceu sozinho entre monstros gigantes de luz e escuridão. Que se foi seu castelo, de areia desfeito, de névoa dissipada, de luz mareada e escuridão clareada. Toda a poeira desfeita de maneira a não restar nem menção; todos os criados, de ossos velhos antigos, eram na verdade vidro que racharam ao olhar. 
- Um brinde ao reizinho, que sabe sozinho, lutar em terra de gigante! 
O reizinho, chorava sozinho em terra áspera de castelo de ar. Reizinho, reizinho, te criastes sozinho, não vedes então que o mundo não vai amansar? Tantos gigantes tentaram mesmo há instantes outra vez te derrubar. Te deram mentiras para saborear, mentiram teus amores, mentiram tua união, conservastes entretudo algo em teu coração? Conserva, reizinho, tua força e carinho, teu espírito de leão que nunca conhecerá quem o dome.
Era um vez um reizinho, vendo sozinho a escuridão de todo o reino. O reino contudo, assim como o castelo, era de poeira e se desfez com o olhar. Era uma vez um rezinho, criado sozinho, em reino de ninguém.
- Vai, reizinho, crias um reino de verdade, larga a saudade, e vai que tardas em cuidar.