segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O maior monstro já criado

Salvador Dalí, um dos maiores expoentes do surrealismo deixou uma herança sem igual para a humanidade. Ele teve uma visão do maior monstro já criado e colocou seu retrato, misturado com a mais pura essência de eufemismo, em uma tela que se espalhou rapidademente. Que coisas tenebrosas devem ter passado pela cabeça de Dalí ao ver a face crua de tamanha besta? Não ouso imaginar. E em seu medo e espanto colocou um nome vulgar para a obra: A persistência do tempo.Igualmente de tamanho espanto partilhou "O Bruxo" de Drummond, Machado de Assis, que de súbita visão também viu de relance o reflexo da criatura; segundo o que se conhece, Assis teria dito "O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede. Conheço um que já devorou três gerações da minha família". E nesta noite tão simplória encontrei-me eu com este ser tão assustador. Meu reflexo no espelho foi meu guia pelas entranhas do monstro, e pouco a pouco fui vendo aquilo que O Tempo devorou. Levou-me alegrias, amores, esperanças e sonhos. Que horror, meu Deus! E cada uma das minhas fotografias, minhas lágrimas de tristeza e alegria, meus brinquedos de infância, meu berço. Lá estava tudo, intacto. E a cada visão era como se eu engolisse uma navalha que revirava meu interior por completo. E eu chorei. Ah, chorei, por medo, por arrependimento, por saudade. E não seria outra a maior arma do Tempo que não a saudade. Te fere como aço em brasa. E quanto, meu Deus, quanto eu não pude ver que o monstro já levava embora até mesmo de minha mente? Os beijos de amor que partilhei com quem amei (amei sim, pois amor não precisa ser uma fábula eterna para ser amor), as alegrias e experiência inebriantes que tive. Que espada hão de inventar para que eu possa cravar no estômago da besta e tomar tudo meu de volta? Tudo! E eu me deparei com meu reflexo, meu amigo desde que me lembro, dizendo "Meu anjo, meu amigo, não te deixes pertubar. Nada disso volta, é verdade, mas não há como ter um futuro se te apegas ao passado! Deixa que a besta leva, pois a vida te traz cada vez mais."; e minha garganta respondia que não, meus olhos respondiam que não, e minhas lágrimas caiam. Que visão aterradora tive desse monstro. E agora o futuro é uma névoa escura e meu passado é uma saudade sem fim. Como encarar a vida sem medo, se não posso ver um palmo à minha frente? Tenho medo, minha alma bem sabe, mas o meu morador do espelho nunca mentiu pra mim, nem quando doente, ou gordo, ou cansado, nunca me contou uma leviandade. E outras visitas às entranhas do monstro farei, certeza essa eu tenho, mas que o meu presente seja tão dourado que não me aflinja o brilho do que reluz dentro do Tempo. Meu passado me assombra, meu futuro me assusta, mas meu presente é a chance de espantar todos esses temores de mim. Que um dia se invente um antídoto para o veneno do tempo.


Danilo C. Lopes

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