domingo, 21 de julho de 2013

Eu estava te esperando naquela curva estreita.

Era um sombra, eu sei. Era inexoravelmente assustador. Era desconhecido.
Eu entendo, era um curva. Não se sabe o que esperar após a dobra, por vezes ambígua, de uma curva.
Podia ser medo, podia ser desinteresse, mas você nunca cruzou aquela curva. O medo que você deve ter sentido ao arriscar uma quebra tão aguda, no mínimo foi paralisante. "Quem me espera ali?", deve ter se perguntado. Eu queria que você tivesse a força ou curiosidade de ao menos olhar. Eu achava, pela nossa comunicação não dita, pelos diálogos de olhares e pelo perfume que você punha quando vinha me ver, que havíamos combinado: Eu te esperaria naquela esquina, e você viria ao meu encontro. De lá, de repente, seguiríamos para um café ou um cinema.
Eu te esperei no frio tenso coberto por uma névoa asfixiante; nem houve resposta. Eu só podia ouvir seus passos vindo, parando e depois a rapidez com que correstes na direção oposta.
Talvez eu tenha achado demais, talvez nunca nos comunicamos de fato, apenas eu falei sozinho com teus olhares. Se então foi assim, sinto muito. O fato é que me senti fortemente injuriado ao ouvir-te voltar.
Só, com um buquê de flores que logo murcharão; entende, era eu naquela esquina! Se eu corri o risco de ser um ladrão foi por sempre imaginar roubando um maldito beijo teu. Eu era o cavalheiro com o chapéu e algo suspeito na mão.
Tudo bem, eu sei que não deveria ter te esperando, mas eu estava te esperando naquela curva estreita, próximo ao poste, com um puta sorriso e um patético buquê de hortênsias e rosas brancas.
Tal qual a névoa, eu fiquei lá, na noite, esperando ouvir seus passos voltarem, mas só ouvi a chuva caindo forte na minha roupa e um cachorro abandonado que me lambeu os sapatos como quem diz "Te entendo, parceiro.".
Era só uma esquina. Era só um buquê de flores. Era só um sorriso. Era só eu. Era só você. Era.

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